Madre Inês Champalimaud Duff (1836-1909)
A Mãe dos pobres
No passado dia 8 de Maio, concretizou-se um sonho de alguns anos, foi inaugurada, em Aveiro, a Rua Madre Inês Champalimaud Duff. Presentes o Sr. Bispo, D. António Moiteiro, o Sr. Presidente da Câmara, Eng. Ribau Esteves, alguns Vereadores e um grupo de Irmãs Dominicanas. A homenagem começou com a celebração da Eucaristia, presidida pelo Sr. Bispo D. António Moiteiro, na Sé Catedral, antiga Igreja do Convento dos Dominicano, e a ida ao seu túmulo no Cemitério Central de Aveiro.
“A Mãe dos pobres”. Era assim que era conhecida pelo povo de Aveiro e é assim que gosto de recordar a Madre Inês. Foi esse o testemunho que deixou na cidade dos canais e foi esse o principal motivo que nos congregou nesta homenagem.
Sabemos que atrás de cada nome há uma história de vida! Uma vida com significado, uma vida que vale a pena perpetuar, guardar memória e conhecer. A Madre Inês C. Duff deixou rasto nesta cidade – na qual não nasceu – mas onde passou cerca de 25 anos e que adoptou como sua, a exemplo da Stª Joana Princesa. Como Stª Joana, a Madre Inês deixou Lisboa e foi viver para Aveiro; como ela, amou Deus acima de tudo e a Ele se consagrou; ambas amaram S. Domingos e escolheram a Ordem Dominicana para fazerem a sua consagração; ambas se dedicaram à protecção e ajuda aos mais pobres. Foi no mesmo edifício, o Mosteiro de Jesus que viveram longos anos, dedicadas à oração e a fazer o bem. Foi aí nessa pacífica casa que as duas adormeceram no Senhor, com fama de santidade. Se no funeral de Stª Joana, (Maio de 1490) como conta a lenda, as árvores choravam, as folhas caíam; no da Madre Inês Duff (Dezembro de 1909) o povo chorava-a com a expressão: Morreu a mãe dos pobres.
Duas mulheres dominicanas que marcaram, em tempos diferentes a bela cidade de Aveiro. Stª Joana é bem conhecida e amada, desde longa data nessa sua cidade de que é padroeira. A partir de agora, a cidade quer tornar também viva e perpetuar a memória da Madre Inês Champalimaud Duff, perpetuar a sua memória sobretudo pela dimensão da sua caridade e solidariedade, pelo testemunho do Evangelho que ali deixou.
Nascida em Lisboa, em 1836, amiga de Teresa de Saldanha – a fundadora da Congregação das Dominicanas – e sua colaboradora na obra educativa da Associação Protectora das Meninas Pobres, ambas percorreram as ruas e os bairros mais pobres da capital, auxiliando os necessitados.
Sentindo-se seduzida por Jesus, Josefina, seu nome de baptismo, partiu para a Irlanda a 29 de Novembro de 1868, para fazer a formação inicial, o Noviciado, na Congregação Dominicanas de Stª Catarina de Sena. Professou, em Drogheda, no dia 4 de Maio de 1870, há 151 anos, e regressou a Portugal em Dezembro do mesmo ano. Exerceu uma influência relevante nas primeiras Irmãs da Congregação, quer como Mestra de Noviças, quer como conselheira e colaboradora de Teresa de Saldanha, na orientação da Congregação.
Desenvolveu enorme acção educativa, na abertura e direcção de várias escolas, destacando-se uma aula de instrução primária para rapazes.
Em Aveiro, a Madre Inês revelou-se como grande pedagoga, durante os vinte e cinco anos (1884-1909) de direcção no Colégio de Santa Joana Princesa. Conservando tudo o que era digno de ser respeitado pelo valor histórico ou artístico, soube transformar o vasto Convento de Jesus em salas de aula, orientou um estabelecimento de educação aberto a todas as classes sociais com grande sabedoria e inteligência.
O que sobressai, porém, na sua vida é a dimensão da sua caridade que a tornou muito querida de todos: «Diversas pessoas, ao serem recebidos por ela, confessavam que se julgavam em frente da Rainha Santa Isabel de Portugal, tal a delicadeza do seu porte. Havia nela uma simpatia, uma suavidade e doçura que a todos conquistava. Muita gente da cidade procurava o seu conselho. Os pobres viam nela uma mãe! Quantas lágrimas secou, quanta pobreza envergonhada socorreu! A Madre prioresa, como era conhecida em toda a cidade, era a consolação de todos os aflitos e a alegria de quantos a conheciam.»
A sua obra caritativa, a competência e o método educativo, baseado no amor pela criança e pela jovem que se revelava em respeito, atenção, dedicação, foram manchete em vários jornais.
O Papa Francisco deu o significativo título à sua notável encíclica Fratelli Tutti – Todos irmãos. E os jornais da época dizem isso mesmo da Madre Inês Duff: Amava as criancinhas como a melhor das mães, queria aos pobres e aos desgraçados como se todos fossem seus irmãos. Tinha requintes de galanteria para grandes e pequenos, interessava-se pela felicidade e bem estar de conhecidos e desconhecidos. Não havia virtude que não possuísse, caridade que não exercesse.
Podemos dizer que a Madre Inês viveu um amor que valorizava todas as pessoas, que semeou a paz, andou junto dos pobres, abandonados, doentes… dos últimos. Ela, qual bom samaritano, assumiu como própria a fragilidade dos outros, fazendo-se próxima de todos os que se encontravam caídos nas margens da vida. Reconheceu em cada irmão abandonado ou excluído o próprio Cristo.
O jornal O Progresso de Aveiro escreveu: “…espírito moderno, pessoa da sua época e possuidora de uma casta e sólida ilustração que se associou com a maior espontaneidade às alegrias e às dores dos aveirenses”. Estamos muito gratas por esta homenagem a mais um fruto de santidade da árvore de S. Domingos, tão verdejante em Aveiro.
Lisboa, Maio de 2021
Ir. Rita Maria Nicolau