Carta à Família Dominicana antes das eleições europeias de Maio de 2019

Carta à Família Dominicana antes das eleições europeias de Maio de 2019

Numa recente reunião de frades Promotores de Justiça, Paz e Integridade da Criação, reflectimos sobre a importancia das próximas eleições ao Parlamento Europeu, tal como fizeram outras Comisssões de Justiça e Paz na Europa. Ao mesmo tempo, decidimos partilhar a nossa preocupação com todos os Promotores de JPIC da nossa região. Para tal, redigimos um texto que lhes foi enviado para receber as suas opiniões. O resultado final é esta carta que apresenta o que a maioria dos Promotores consideramos os desafíos mais importantes para a Europa.

As actuais circunstâncias recordam-nos a responsabilidade da Família Dominicana na hora de propor uma leitura dos sinais dos tempos que contribuam para o bem comum. Queremos sugerir alguns temas fundamentais, que sirvam como ponto de partida para a reflexão nas nossas comunidades e nos nossos apostolados. Apresentamos de forma breve seguindo a metodología de «ver, julgar, agir», e apresentamos no final uma referência a alguns testemunhos da Família Dominicana.

 

Migação, xenofobia e racismo

A migração é um fenómeno complexo do nosso tempo. Em primeiro lugar, convida-nos a tomar consciencia das suas causas:  a injustiça, a violencia e a exploração económica nos países de origem. A migração voluntária, segura, regular e bem geridas contribuiu para o desenvolvimento e o enriquecimento cultural.a abertura ao encontro. Ser fiel ao Evangelho requer uma mudança de mentalidde e estilo de vida e a recusa da xenofobia, da hostilidade e esas formas de racismo que consideram os migrantes como o elemento expiatório dos problemas das nossas sociedades europeias.

O testemunho de Dominique Pire nos sirva de inspiração neste campo.

 

Desigualdades sociais e económicas e justa distribuição dos bens.

Nas nossas sociedades europeias vemos uma crescente desigualdade, exclusão social e económica. O predomínio do capitalismo financeiro neoliberal, baseado na idolotria do dinheiro (cf. Evangelii Gaudium 55), promove uma cultura de desperdicio e gera condições laborais e de vida precárias. Neste contexto, especialmente as mulheres são vítimas de exploração, discriminação e violencia.

Tal situação convida-nos a retormar a pregação dos profetas contidas no Ensino Social da Igreja sobre as relações justas e trabalho decente para cada pessoa.

É um convite a mostrar solidariedade com aqueles que sofrem, a propor modelos económicos e laborais alternativos que protejam os direitos sociais e a promover leis que reconheçam tais direitos.

O testemunho de Giorgio La Pira inspira-nos nesta tarefa.

 

Políticas familiares e protecção da vida

Vemos que as políticas familiares são geralmente inadequadas quando se trata de promover taxas de natalidade mais altas, a educação dos filhos, o cuidado dos doentes e dos mais velhos e o apoio à conciliação da vida de trabalho e familiar.

Esta situação recorda-nos que Jesus não via cada pessoa como um «objecto», mas como um «sujeito». Jesus viveu acolhendo a todos e entregando a sua vida para a nossa salvação.

O seu acolhimento e entrega convida-nos a desenvolver políticas que promovam o cuidado, o dom de si mesmo, a solidariedade e a promoção da vida humana em todas as suas fases.

O testemunho de muitas irmãs dominicanas em todo o mundo comprometidas com o cuidado dos mais débeis inspira toda a a Família Dominicana.

 

A crise da democracia e os populismos

Observamos uma crise geral da democracia constitucional. Os populismos promovem formas de nacionalismo excluente e, por vezes, manipulam a fé cristã ou os direitos humanos, ao mesmo tempo que propõem soluções simplistas a problemas complexos.

Esta situação leva-nos a colocar em prática o chamamento de Jesus à fraternidade universal. Também nos convida a abordar os conflitos com verdade, buscando formas de reconciliação, a viver a misericórdia e a descobrir a nossa identidade não em oposição a outras.

O testemunho do Beato Pierre Claverie inspira-nos neste compromisso

 

Crise ecológica

Estamos conscientes de que estamos a viver uma crise ecológica que ameaça o futuro do nosso planeta e as gerações futuras. A contaminação ambiental, as alterações climáticas e a exploração excessiva dos recursos naturais tem um profundo impacto na saúde das populações e na integridade da Criação.

Esta situação convida-nos a acolher a mensagem da Bíblia sobre a Criação e a conhecer melhor o convite à acção que encontramos na encíclica Laudato si. De um modo particular, a chamada à conversão ecológica e a protecção da nossa Casa comum.

Também nos convida a repensar os nossos estilos de consumo e a tomar medidas concretas para alcançar os objectivos da Agenda 2030 da ONU (17 Objectivos de desenvolvimento sustentável).

O testemunho da Delegação da Família Dominicana na ONU em Genebra e Nova York e o trabalho dos nossos irmãos e irmãs na Amazónia e outras regiões do mundo, inspiram-nos diante destes desafíos.

 

Pensamos que a nossa reflexão deveria desenvolver estes elementos, para a renovação de «uma Europa capaz de dar luz a um novo humanismo baseado em três capacidades:  a capacidade de integração, a capacidade de diálogo e a capacidade de criar» (Papa Francisco, discurso pronunciado na Conferencia do prémio Carlomagno, 6 de Maio de 2016)..

 

Fr. Xabier Gómez op, Promotor Regional de JPIC-Europa

Fr. Alessandro Cortesi op, Promotor de JPIC, Provincia Santa Catalina de Siena (Italia)

Fr. Ivan Attard op, Promotor de JPIC, Provincia de Malta

 

Madrid, 1 de Fevereiro de 2019.

 

Trad GS/04/19

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