por Fr. Bernardo Domingues, OP
A Festa da Páscoa é o centro de todo o ano litúrgico cristão. Da Páscoa tudo nasce e para a Páscoa tudo converge. Foi da importância da Páscoa que a Igreja tirou a necessidade de se preparar convenientemente para ela. E nasceu a Quaresma.
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- Tempo de Jejum
A Páscoa começou por ser um tempo de jejum de dois dias, os dois primeiros dias do Tríduo. Este jejum de pesar e tristeza era assumido em memória do senhor morto e sepultado. Tertuliano justificava: Porque o Esposo foi arrebatado à Igreja.
Mas este jejum tinha como pano de fundo a certeza da ressurreição do senhor. posteriormente, este jejum foi alargado a toda a semana anterior à Páscoa e, pouco depois, às sete semanas.
2. Dimensão Baptismal
Desde muito cedo surgiu a necessidade de evangelizar e baptizar. O baptismo era só na idade adulta. tendo em conta o paralelismo simbólico entre a morte e a ressurreição de Jesus e o banho por imersão dois catecúmenos que mergulhavam e ressurgiam da água, a Quaresma passou de ser, sobretudo, preparação final dos catecúmenos para o baptismo a celebrar na Páscoa. A partir daqui, nunca mais a Quaresma deixou de andar ligada ao Baptismo. A Quaresma passou então a ser o período em que os catecúmenos recebiam a última parte da sua formação para o Baptismo a receber no dia de Páscoa.
Só muito mais tarde (séc. IV) quando desapareceu na Igreja a prática catecumenal com o Baptismo de adultos e se começou a baptizar só as crianças é que a Quaresma se tornou, sobretudo, penitencial.
A Quaresma acabaria por se tornar, na cultura popular, como o tempo de comer peixe e não carne, tempo de de um jejum sem sentido, jejum sem qualquer dimensão de partilha com os mais necessitados.
3. Que Quaresma para os dias de hoje?
As comunidades cristãs precisam de recuperar o sentido da Quaresma. O único caminho a surgir é a Páscoa. A quaresma sem a Páscoa não tem sentido.
O tempo quaresma tem que voltar a ser um tempo de preparação da Páscoa. um tempo em que os cristãos se preparam para a sua própria «ressureição», morrendo para o pecado e renascendo para a Vida, fazendo penitência em favor dos mais necessitados.
A Quaresma deve ser um tempo de maior silêncio interior, de mais profunda abertura e comunicação com Deus, de verdadeira conversão e partilha fraterna: partilhar com os outros o superflúo e até o necessário porque é nisto que consiste o verdadeiro jejum.
A Páscoa sem a quaresma não é possível.
A quaresma sem Páscoa (Ressureição) não faz sentido nenhum. Façamos verdadeira penitência e preparemos a Festa da Ressureição.
É mais fácil fazer penitência do que fazer festa.
Mas só a Festa da Páscoa é que é verdadeiramente importante!
in Tornar-se cristão neste tempo, Porto, 2017